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Desperdício de potencial humano - Maria Ignez Prado Lopes Bastos

Quando os países disputam lugar no ranking mundial dos mercados financeiros e o nosso Governo, por pressões externas e razões internas, está impossibilitado de atender às premências elementares do povo brasileiro, sentimo-nos como peões de um jogo que se desenrola num cenário distante de nossas necessidades básicas, como educação e saúde para nossos filhos.

Por mais que a situação pareça insolúvel, a saída existe. As organizações responsáveis pelos artigos que o povo brasileiro consome podem ter um papel decisivo na diminuição do número dos brasileiros social e economicamente excluídos. Não só devido à necessidade de seguirem a tendência mundial de investir na responsabilidade social, no consumo sustentado, na ética nas relações de trabalho e qualidade de vida nas comunidades em que operam, mas também para defender seu próprio mercado, conquistando maior número de consumidores. As escolas e, principalmente, as universidades também têm a sua parcela de responsabilidade.

A atual conjuntura , em que a globalização impõe às empresas grande atenção aos seus clientes internos e externos , sob o risco de não sobreviverem a competição mundial, é o momento ideal para o estabelecimento de planos e programas que possam ser desenvolvidos pelas empresas privadas, com ou sem parceria com a administração pública, e que façam crescer e profissionalmente nossa população, com atenção especial para a qualificação dos excluídos social e educacionalmente.

As organizações, para se desenvolverem, precisam de ambientes com qualidade e clientes (internos e externos) satisfeitos . As organizações que terão sucesso na competição do mundo globalizado, certamente serão aquelas que valorizam as pessoas. E para contribuírem socialmente, as pessoas precisam ser respeitadas, individualizadas e qualificadas. Não podem ser consideradas apenas como estatísticas, números.

Investir em educação significa muito mais do que alfabetizar indivíduos ou capacitá-los em uma profissão. Já não basta ao trabalhador, mesmo aquele de uma linha de produção, entender corretamente um manual. As empresas necessitam de trabalhadores com raciocínio criativo , que saibam identificar problemas e apresentar soluções, enfim, que contribuam para o aperfeiçoamento de toda a produção e sejam cidadãos ativos, dentro e fora do ambiente de trabalho.

Enquanto no mundo todo ninguém mais discute que a qualidade das pessoas é o grande diferencial para o desenvolvimento das organizações e da sociedade, no Brasil, o maior desperdício é, justamente, o do potencial humano. Desperdiçamos, nos bancos escolares e nas universidades, mesmo sem nos dar conta , a contribuição que poderia ser o fator de mudança da qualidade de vida em nosso País. Um desperdício que se dá em duas frentes. A primeira é a da própria exclusão educacional, que empurra para o mercado de trabalho, ou muito pior, para as ruas, milhares de crianças e jovens que deveriam estar nas escolas. A segunda é causada pelo baixo nível do ensino, sobretudo na rede pública de 1º e 2º graus e em muitas faculdades privadas. Este último problema impede que o estudante chegue à idade adulta como brasileiros conscientes e interessados em reduzir as mazelas sociais de nossa população.

A conjuntura favorável (competição por maiores e melhores mercados consumidores) não pode ser desperdiçada. É o momento para que as organizações comecem a fazer o que o Governo não está conseguindo. Elas têm os meios e os fins. Tudo endossado pela sociedade de informação em que vivemos. Portanto, mãos à obra!

A sociedade já se movimenta nesse sentido. Temos que traduzir em ações, o mais rápido possível, os anseios e o discurso das organizações sem fins lucrativos do terceiro setor, assim como temos de elaborar projetos para que as organizações dos demais setores da economia, na busca de seu desenvolvimento, proporcionem educação básica , conhecimento e qualidade de vida para todos os brasileiros.

Maria Ignez Prado Lopes Bastos

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